Sustentabilidade, uma pedra necessária no caminho da modernização

 

Normal 0 21 false false false PT-BR X-NONE X-NONE /* Style Definitions */ table.MsoNormalTable {mso-style-name:"Tabela normal"; mso-tstyle-rowband-size:0; mso-tstyle-colband-size:0; mso-style-noshow:yes; mso-style-priority:99; mso-style-parent:""; mso-padding-alt:0cm 5.4pt 0cm 5.4pt; mso-para-margin-top:0cm; mso-para-margin-right:0cm; mso-para-margin-bottom:10.0pt; mso-para-margin-left:0cm; line-height:115%; mso-pagination:widow-orphan; font-size:11.0pt; font-family:"Calibri",sans-serif; mso-ascii-font-family:Calibri; mso-ascii-theme-font:minor-latin; mso-hansi-font-family:Calibri; mso-hansi-theme-font:minor-latin; mso-bidi-font-family:"Times New Roman"; mso-bidi-theme-font:minor-bidi; mso-fareast-language:EN-US;}

As crises pelas quais a humanidade está passando, no que se refere à gestão ambiental, social e econômica, exigem novas maneiras de se fazer política e a gestão sustentável surge como uma solução ideal e necessária para o planeta. As consequências do aquecimento global para a humanidade refletem diretamente na política e no âmbito empresarial.

A sustentabilidade proporciona formas possíveis de amenizar os problemas globais e buscar possibilidades de reverter o quadro crítico em que se encontra o planeta, através de iniciativas das grandes corporações, do governo e da sociedade.

O papel da política para o desenvolvimento sustentável – a vontade política refere-se à aquisição de conhecimento e aprendizado a longo prazo, mesclados com os acontecimentos externos que instigam essa vontade. O poder implica na vontade, pois significa a capacidade de agirmos conforme nossos princípios e valores. O poder político é a capacidade de determinar o que será feito na sociedade e é sua tarefa promover o interesse público, o bem comum, refletindo na sobrevivência das sociedades (Deutsch, 1971).

A política une o desenvolvimento, a aprendizagem e o poder e tem finalidade em si mesma. A política se dá focada nas aspirações e objetivos traçados para o futuro e é aplicada – através das decisões baseadas nos governos passados – no tempo presente. A democracia instiga a sociedade a participar da política, isso também caracteriza a vontade política de enfraquece o poder.

O desenvolvimento, a adaptabilidade e a capacidade de aprendizagem são fundamentais para a sobrevivência das sociedades e de suas culturas. Para que haja o crescimento de um sistema político, será necessário desenvolvimento econômico, disponibilidade de recursos materiais e humanos, destinação desses recursos para novos usos e autodeterminação de seus governantes.

A competição política mundial atual combina sobrevivência, persuasão, aprendizagem e descoberta. Nesta luta, governo e política continuarão por muito tempo como instrumentos indispensáveis à aprendizagem social acelerada, com os quais a humanidade poderá adaptar-se mais rapidamente ao desenvolvimento.

Os sistemas que se autodesenvolvem e promovem a própria melhoria são capazes de aumentar a sua probabilidade de sobrevivência a longo prazo e, por possuírem a capacidade de enfrentar ambientes distintos, aumentam sua independência.

Estamos vivenciando um constante processo de modernização ao longo de nossas vidas. O que hoje é necessário e eficaz, amanhã irá desmanchar-se dando lugar a novos produtos e processos. A inovação é um mal necessário para o desenvolvimento tecnológico. Entretanto, algumas vezes, esquecemos do custo maior que poderá resultar do processo de modernização.

Estamos vivendo uma mudança de paradigmas e, consequentemente, de atitudes em direção ao desenvolvimento sustentável. Se uma empresa não é capaz de produzir de maneira sustentável, chegará um determinado momento em que não haverá lugar para ela no mundo sustentável. Tudo o que é sólido desmancha no ar (Berman, 1987). Visualizamos, através dos tempos, as sólidas instituições desmancharem-se no ar.

Bens comuns como segurança, saúde e educação são luxos, dos quais apenas algumas pessoas desfrutam com qualidade, atualmente. Para obter uma boa educação, garantir a segurança da família, ter um atendimento diferenciado e a saúde valorizada nos dias de hoje, é preciso pagar. E apenas alguns privilegiados se beneficiam destas instituições de qualidade e que deveriam ser iguais e acessíveis a todos.

O conceito de sustentabilidade envolve o desenvolvimento econômico, a responsabilidade social e a gestão ambiental em relação ao âmbito empresarial, político e individual. Sustentabilidade compreende promover ações para a recuperação do equilíbrio ambiental. A ideia é satisfazer nossas necessidades de recursos naturais sem inviabilizar a sobrevivência e as necessidades das gerações futuras. Construir uma relação ética com acionistas, funcionários, fornecedores, clientes, comunidade e governo. Conduzir os negócios com metas compatíveis com o desenvolvimento sustentável do planeta e da sociedade. Equilibrar a distribuição de renda e promover a igualdade de direitos, a diversidade e a dignidade. Estímulo ao desenvolvimento da comunidade em torno da empresa e dos consumidores.

A sustentabilidade torna-se, então, uma vantagem competitiva para as empresas, quando o cliente percebe a ética e o compromisso da empresa para com o meio ambiente e a sociedade, independente das legislações vigentes.

As organizações e o dilema da sustentabilidade – no documentário “The Corporation” (vídeo disponível no YouTube no endereço https://www.youtube.com/watch?v=SV_MoR-o7C4), a partir da polêmica decisão da Suprema Corte de Justiça americana concluindo que uma corporação, aos olhos da lei, é uma "pessoa", são analisados os poderes das grandes corporações no mundo atual. A exploração da mão-de-obra barata no Terceiro Mundo e a devastação do meio ambiente são alguns dos fatos explorados no filme.

A pessoa jurídica não tem moral nem consciência, está personificada pela forma como os consumidores a idealizam. Se a corporação é vista como uma pessoa, então ela é psicopata e a responsabilidade moral pelos seus atos é de responsabilidade da sociedade, que acata as imposições feitas pelas corporações.

O filme revela casos de exploração e indiferença em relação aos trabalhadores no que se refere a pagamentos de salários, trabalhos envolvendo menores e exposição a produtos tóxicos. As pessoas não se submetem, nem submetem suas crianças, a este tipo de “emprego” por motivo qualquer.

Nos países pobres, a chegada de grandes empresas é celebrada por darem ao povo a capacidade mínima de sobrevivência. Essas pessoas só têm a oferecer a sua mão-de-obra barata, vivem do que o seu trabalho lhes rende. Algumas empresas não se importam com as condições sociais da população e ainda abusam delas, explorando-as, pagando a elas salários medíocres e, ainda assim, são vistas com gratidão por estas pessoas, por terem lhes dado a oportunidade de trabalho.

O documentário faz uma comparação para justificar as atitudes de determinadas empresas como crimes contra a vida. A atitude de pegar uma arma e matar alguém é considerada um crime. Expor pessoas a produtos químicos tendo o conhecimento dos riscos à vida, também é crime, a diferença é que, neste caso, a morte vem lentamente e de forma mais dolorosa.

As organizações estão cada vez mais preocupadas com a sua lucratividade e competitividade no mercado. Ainda que tragam inovações em produtos e serviços que beneficiem a sociedade, seu foco e objetivo final é a concentração cada vez maior dos lucros. Em empresas endividadas, o lucro está acima de tudo, inclusive do bem comum.

Um exemplo de como o mundo dos negócios não para pode ser ilustrado no documentário quando um profissional da bolsa de valores comenta, friamente, que na época do atentado às Torres Gêmeas, nos Estados Unidos, nunca se ganhou tanto dinheiro na bolsa. As pessoas que não tinham nenhum envolvimento pessoal com a tragédia aproveitaram para inflar suas rendas, lucrando em cima da desgraça e sofrimento alheios.

Em contrapartida, na época de “nascimento” da Natura no Brasil, a responsabilidade socioambiental não era tão exigida e cobrada pela sociedade como atualmente, mas seus sócios fundadores acreditavam e apostavam nos cuidados com o planeta e com a sociedade. A Natura firmou parcerias com as comunidades no meio da floresta Amazônica e as ensinou a extração dos produtos, de forma a preservar a natureza.

A linha de produtos “Ekos” é o resultado do uso sustentável das matérias-primas peculiares da região. Além de ensinar as melhores práticas aos nativos da região, a empresa respeitou a cultura e o modo de vida dessas comunidades.  Como consequência de um trabalho bem realizado e com visão de futuro desde o seu início. Atualmente a Natura está passando por um processo de internacionalização. Entretanto, a morosidade dos órgãos ambientais; os custos com investimentos para atender às normas ambientais; a dificuldade de identificar critérios técnicos utilizados pelos órgãos; e as diferentes interpretações da lei ambiental que atrapalham os negócios, podem prejudicar o desenvolvimento das práticas sustentáveis nas organizações. Infelizmente, para muitas empresas a adoção de cuidados ambientais se dá por mero cumprimento da lei e pelo marketing positivo que a empresa ganhará perante seus clientes, por passar a imagem de preocupação com o meio-ambiente.

A preocupação é maior com os formalismos do que com o fato de proteger o ambiente. Além disso, apenas 20% da legislação existente, em termos ambientais, estão regulamentadas para aplicação, pois a máquina pública é lenta e existem influências e interesses políticos e empresariais em jogo.

As organizações devem buscar o diferencial competitivo investindo em atitudes e práticas sustentáveis. Devem desenvolver ações sociais impactantes na qualidade de vida de seus funcionários e da sociedade. Para isso, devem trabalhar a conscientização, a educação ambiental e o envolvimento da sociedade nas questões socioambientais. A Produção mais limpa e as tecnologias limpas são ferramentas essenciais para cumprir com as necessidades ambientais de um desenvolvimento sustentável.

Hoje, mais do que nunca, tornou-se fundamental largarmos os velhos hábitos e as formas viciadas de produção, pois não há mais como ignorar os limites da capacidade de suporte do nosso planeta, já gravemente comprometidos pelas ações humanas. A tecnologia é mais limpa quando respeita o meio ambiente. Nem sempre ela consegue atingir 100% de seu objetivo, que é o impacto ambiental zero, mas ela sempre será menos agressiva do que as tecnologias existentes, fazendo com que os sistemas de produção sejam mais compatíveis com o meio ambiente e possibilitando que o desenvolvimento ocorra dentro de um modelo sustentável.

Junto da produção mais limpa, as tecnologias limpas são importantes ferramentas do desenvolvimento sustentável e estão ocupando, com certeza, o mercado de tecnologias do futuro. A geração e adoção de tecnologias que sejam baseadas na compatibilidade. A responsabilidade social trata do respeito pelo indivíduo, pelo ambiente natural e pela continuação da vida no planeta. A economia social abrange as organizações sem fins lucrativos e as cooperativas entre outras instituições, cujos resultados ou lucros servem para beneficiar o próprio cliente ou membro daquela sociedade, ou seja, têm um objetivo social. O balanço social dessas empresas deve ser transparente em suas informações financeiras, econômicas e sociais. Visando beneficiar a sociedade no que se refere a buscar atender as necessidades das comunidades.

A qualidade total, nas questões envolvendo responsabilidade social, garante à sociedade, benefícios, através de planejamentos estruturados sobre o balanço social da empresa e sobre práticas a serem adotadas a fim de maximizar a qualidade de vida de seus clientes internos e externos.

As políticas sociais fazem parte do processo estatal de alocação e distribuição, em favor da acumulação, em detrimento da satisfação das necessidades sociais básicas, assim como na promoção da igualdade. O Estado intervém na realidade social para promover os direitos sociais e garantir os direitos do cidadão.

O empreendedorismo social refere-se a geração de autoemprego (autonomia do trabalhador), empreendedorismo comunitário (comunidades empreendedoras), intraempreendedorismo (funcionário empreendedor) e políticas públicas (governamentais para o setor). As ações de empreendedorismo social somente alcançam sucesso se, de fato, for sustentável o processo de desenvolvimento a elas inerente. É importante que haja o gerenciamento da sustentabilidade na busca do aumento e do reforço das capacidades de suporte e sustentação, fator indispensável para o empreendedorismo social sustentável de base comunitária e societária.

A política na crise ambiental – a questão do aquecimento global está constantemente em debate, atualmente. A alta concentração de CO2 na atmosfera provoca o aquecimento global, que representa um grande risco às gerações futuras. No filme “Uma verdade inconveniente”, vencedor do Oscar de “Melhor Documentário” no ano de 2012, Al Gore (ex-vice-presidente, ex-candidato à presidência dos Estados Unidos e ativista ambiental) retrata os perigos decorrentes do descaso com a questão ambiental e as consequências para as gerações futuras. Al Gore, em seu filme, faz críticas expressivas ao governo Bush e o descaso aos alertas em relação à sustentabilidade do planeta.

O ativista apresenta situações de tragédias que foram previstas por cientistas e estudiosos e que foram totalmente ignoradas pelo governo como o aumento da temperatura dos oceanos ocasionando furacões, tornados e tufões em regiões consideradas como de probabilidade quase nula de ocorrerem tais fenômenos, como no caso do Atlântico Sul, no Brasil em 2004. Além do furacão Katrina, em 2005, que havia sido previsto antecipadamente e, se as autoridades tivessem dado atenção a estes alertas, poderiam ter evitado as tragédias ocorridas em consequência deste fenômeno da natureza estimulado pelos homens. Segundo o ativista, as catástrofes da natureza são consequências do impacto que causamos nela e não o contrário.

Política, economia e meio-ambiente – o protocolo de Kyoto surgiu para comprometer as nações industrializadas a reduzir suas emissões em 5,2% (em relação aos níveis de 1990 a partir de 2008). O protocolo permite que os países ricos possam medir o valor líquido de suas emissões, contabilizando as reduções de carbono vinculadas às atividades de desmatamento e reflorestamento.

Para entrar em vigência, o protocolo de Kyoto deveria ter sido ratificado por, no mínimo 55 nações, que contabilizassem 55% das emissões de CO2 produzidas por todos os países industrializados. Essa fórmula implicava em que os Estados Unidos não pudessem bloquear o protocolo sem que fosse dado o respaldo dos outros países.

Os créditos de carbono são certificados emitidos quando ocorre a redução de emissão de gases do efeito estufa. Por convenção, uma tonelada de dióxido de carbono equivalente corresponde a um crédito de carbono. Este crédito pode ser negociado no mercado internacional. Créditos de carbono criam um mercado para a redução do aquecimento global dando um “valor monetário à poluição”. Acordos como o protocolo de Kyoto determinam uma cota máxima que países desenvolvidos podem emitir. Esses países criam leis que restringem as emissões de CO2.

Assim, os países ou empresas que não conseguirem atingir as metas de reduções de emissões, tornam-se compradores de créditos de carbono. Em contrapartida, as indústrias que conseguirem reduzir as emissões abaixo das cotas estabelecidas, podem vender o excedente de "permissão de emissão" no mercado nacional ou internacional. Os países desenvolvidos podem, inclusive, promover a redução da emissão de gases causadores do efeito estufa em países em desenvolvimento através do mercado de carbono quando adquirem créditos de carbono provenientes destes países.

Com a questão do mercado de créditos de carbono, envolvendo negociações entre companhias de países comprometidos com o protocolo de Kyoto, criou-se, no mundo empresarial, novas oportunidades profissionais. Algumas empresas têm criado áreas ou nomeado profissionais responsáveis por ações de sustentabilidade e cidadania empresarial. Criando-se assim um novo mercado para quem se interessa pelo assunto. Além de atuarem no mercado de carbono, os profissionais podem desempenhar tarefas voltadas às práticas de conservação ambiental e ações de responsabilidade social, realizadas dentro da empresa visando atingir a sociedade.

Devemos ser céticos ao encarar os seres humanos, uma vez que ainda contamos com governantes que creem na prática do poder acima da ética, pois vale tudo para manter-se no poder, inclusive práticas imorais, egoístas e de interesses de um pequeno grupo (Maquiavel, 1998). Entretanto, devemos nos unir e lutar por aquilo que acreditamos ser o melhor para nós, para nossas famílias, para a sociedade. Devemos lutar para garantir o bem comum. Exercer fortemente nosso direito à democracia, enfraquecendo o poder dominante e, assim, conseguirmos impor a nossa vontade. Dessa forma, talvez ainda dê tempo de reverter a situação crítica pela qual o planeta está passando e, quem sabe, a questão sustentável nos apresente novas maneiras de governar, de acordo com as necessidades advindas da modernização.

 

Concluindo, o desenvolvimento sustentável caracteriza-se por resolver as questões da gestão ambiental, da responsabilidade social e da economia, visando atingir positivamente toda a sociedade. Entretanto, enquanto os detentores do poder não se conscientizarem sobre o quanto a questão da sustentabilidade é urgente e fundamental, toda a sociedade sofrerá as consequências da modernização desenfreada e isso vale uma boa reflexão! Pense nisso!

 

Pesquisa e edição: Demerval Galvão – Fonte: www.administradores.com.br;  Debatte Europa kontrovers, Deutsch-Französischer Krieg; Economia verde e sustentabilidade, Celio Bermann; O pensamento político de Maquiavel, 1998; BECKER, G. S. et al. The Quantity and Quality of Life and the Evolution of World Inequality. American Economic Review, v.95, 2005; BOURGUIGNON, F.; MORRISON, C. Inequality Among World Citizens: 1820-1992. American Economic Review, v.92, 2002; KRUGMAN, P. The Fall and Rise of Development Economics. In: KRUGMAN, P. (Org.) Development, Geography, and Economic Theory. Cambridge, MA: MIT Press, 1995. p.1-29. MEADOWS, D. H. et al. The limits to growth. New York: Universe Books, 1972; UNITED NATIONS ENVIRONMENT PROGRAMME. Towards a green economy: pathways to sustainable development and poverty eradication. S. l.: Unep, 2011; WORLD COMMISSION ON ENVIRONMENT AND DEVELOPMENT. Our Common Future. Oxford: Oxford University Press, 1987. – Imagen: Google – Postado por Demerval Galvão às quarta-feira, maio 23, 2012 in http://demervalgalvao.blogspot.com.br/ pDemerval Galvão