HISTÓRIA DE PERY-PERY A PIRIPIRI – PARTE II

 Por Luiz Mário Morais Getirana

PIRIPIRI – 1844: Padre Freitas, da fundação de Piripiri ao seu falecimento em 1868.

 

No ano de 1844, Padre Freitas se muda do Sítio Anajá para a Casa-Grande dos Freitas (1), na “Fazenda Piripiri”, com a família (Dona Jesuína Francisca da Silva (2) – Iaiá Zizu), sua mulher; os cinco filhos (3) com Dona Lucinda Rosa de Sousa. Também com ele os seus escravos. O local agradável, próximo a um olho d’água (4) que lhe garantia a permanência e proporcionando uma vida mais saudável, para as pessoas e para os animais. Começa uma nova história do Padre Freitas, agora em Pery-Pery; no início, na labuta do dia-a-dia, primeiro, com os afazeres da casa nova, concomitantemente, talvez, com os acabamentos da Capela em honra a Nossa Senhora do Rosário (5), dos currais, das plantações e das criações de gado. Padre Freitas dividia seu tempo ao ensino das primeiras letras e da língua latina tudo gratuitamente – na realidade foi o primeiro professor de Piripiri; também ensinava a doutrina católica às crianças e adultos demonstrando claramente ser um educador por excelência, preocupado com a formação geral do ser humano. Quanto a sua esposa, Dona Jesuína, coordenava os trabalhos da casa, cuidava dos seus filhos e enteados; ensinava algumas prendas domésticas como coser (costurar), a fiar e fazer renda, tudo graciosamente, e a quem quisesse aprender.

 

Mas Padre Freitas não queria só isso; uma vida parada, sem perspectiva, sem avanços, baseada no cotidiano, talvez, entediante muito comum às outras pequenas localidades interioranas... Ele tinha um foco que era de transformar o simples lugarejo em uma localidade mais desenvolvida. Até 1855 somente duas casas existiam na localidade da Fazenda Pery-Pery – a casa-residência do Padre Freitas e a capela já em honra a Nossa Senhora dos Remédios. Foi aí que Padre Freitas, com sua determinação de empreendedor e benfeitor, divide as terras de sua propriedade em pequenos lotes e oferece a quem quiser construir casas (6). Não faltou quem não quisesse vir morar no entorno da Capela e da Casa de Padre Freitas, sob a sua liderança; a afluência de pessoas foi tamanha que em 1857 já havia muitas casas construídas modificando o aspecto para um promissor lugarejo (7).

A Capela de Nossa Senhora do Rosário, a primeira de Piripiri, também construída pelo Padre Freitas, em honra a Santa protetora dos escravos era simples, de alvenaria e telha; e se localizava onde é hoje a pequena Rua João de Freitas que se estende desde o Museu de Pery-Pery à Escola Padre Freitas, frontalmente a esta escola. Local sagrado onde o Padre Freitas celebrava as Santas Missas e outras cerimônias religiosas. O nosso fundador sempre esteve à frente da Capela no uso de suas funções eclesiásticas até seus últimos dias. Quando Antônio de Freitas e Silva Sampaio, o Tenente Antônio de Freitas, filho do Padre Freitas nasceu, em 16 de outubro de 1853, é que a padroeira da capela foi mudada para Nossa Senhora dos Remédios – “Capela de Nossa Senhora dos Remédios”, em função de promessa que Padre Freitas fez para o filho recém-nascido. 

                        Foto 2 – Capela em honra a N. S. dos Remédios. 

Pela Lei 509 de 25 de agosto de 1860, o povoado Perypery é elevado à condição de Distrito de Paz e, aproveitando o visível crescimento do lugar, Padre Freitas doa trezentas braças quadradas de suas terras a Nossa Senhora dos Remédios, numa visão de desprendimento e o de fazer com que, no futuro, com a criação da Paróquia, esta, tivesse condições financeiras de bem continuar com o pastoreio das ovelhas de Cristo neste povoado. Nota-se claramente a visão altruísta e humanitária do nosso fundador.

A criação da Paróquia de Nossa Senhora dos Remédios se deu em 16 de outubro de 1864 entende-se que nesta época da criação da Paróquia a Capela de Nossa Senhora dos Remédios foi “transformada” em igreja, ainda quando Padre Freitas estava vivo... Criada por Dom Frei Luís da Conceição Saraiva, OSB – Bispo de São Luís-MA. Lembramos que a primeira igreja foi inaugurada em 1884 e demolida em 1953.   

 

Em 1862 Padre Freitas pressentindo a aproximação de sua partida e a de não deixar problemas de herança à esposa Dona Jesuína e aos filhos, redige do próprio punho em seis laudas de papel o seu Testamento (8), mesmo sentindo-se alquebrado pelos anos e a doença que lhe atormentava nomeia como seus testamenteiros seus filhos Domingos de Freitas e Silva Júnior e Raimundo de Freitas Silva. No documento, Padre Freitas relata sobre sua segunda esposa enaltecendo as suas virtudes, no tratamento dado a ele na enfermidade; os devidos cuidados na administração da casa e dos filhos. Dona Jesuína lhe acompanhou e se dedicou ao esposo Padre Freitas por longos 28 anos, até o dia derradeiro de nosso fundador.

 

Nesta época a América do Sul se efervescia para se afirmar na conquista de mais espaço territorial de seus países latinos; o Paraguai queria uma saída para o mar (Oceano Atlântico). Estávamos no século XIX, no final de 1864, o ditador do Paraguai Solano Lopez queria implementar uma política expansionista e aumentar o território paraguaio; invadiu terras brasileiras e argentinas, porém a reação foi imediata e os três países da bacia do Prata – Uruguai, Argentina e Brasil se uniram e formaram a Tríplice Aliança para barrar o avanço paraguaio. Rapidamente o Imperador Dom Pedro II deu início a “convocação de voluntários” brasileiros para lutarem contra as forças do Paraguai; foram arregimentados, em sua grande maioria, principalmente, escravos e pobres. Governava o Piauí nessa época Franklin Américo de Meneses Dória (9) que participou, como tal, na articulação e mobilização com as autoridades dos lugarejos, vilas e cidades piauienses. Padre Freitas liderança do povoado Pery-Pery, em 8 de junho de 1865, escreve ao Presidente da Província informando as dificuldades da pequena povoação e indica os nomes dos irmãos Antônio Gomes das Neves e Raimundo Gomes das Neves “voluntários da pátria” para lutarem em terras paraguaias, representando o nosso povoado. Para fazer o recrutamento dos praças no norte piauiense ficou responsável o campo-maiorense Lívio Lopes Castelo Branco e Silva. Em fim nossos jovens piripirienses partiram para a luta e o Brasil conseguiu sair vitorioso, apesar das perdas humanas e financeiras.

 

À volta do Paraguai, da sangrenta guerra, retorna ao povoado Perypery, apenas o valente Raimundo Gomes das Neves, o nosso herói! Antes, ainda na capital do Reino do Brasil, Rio de Janeiro, os combatentes são recebidos em festa pelo Imperador que ao se aproximar da tropa, viu algo diferente em um dos soldados... Era o nosso Raimundo Gomes das Neves perfilado com os demais, trazendo consigo um cão e o instrumento musical. Foi então que o Imperador penalizado e diante do que vira exclamou: “Além dos tormentos porque passaste ainda trazes um cão às costas?!”... Ao chegar a Teresina, a capital do Piauí, os combatentes também foram recebidos pelas autoridades da Província com muitas festas. Era o dia três de setembro de 1870, às 6:30h da manhã, quando aportou no cais do Rio Parnaíba, a barca que trazia os 140 soldados e 9 oficiais, vinda da cidade de Parnaíba com os sobreviventes da guerra.  Foi uma recepção calorosa, com festas, discursos, paradas militares... Tudo para receber os heróis piauienses. Em Piripiri, de certo, talvez, a chegada de Raimundo Gomes das Neves ao povoado Perypery não teve tanta recepção, a não ser dos familiares e a alegria da noiva de Raimundo, Anna Joaquina Raimunda da Silva, que ficou aqui esperando que a promessa se cumprisse – Raimundo disse à noiva que: “se eu voltar vivo eu me caso com você”. Promessa cumprida! (10). Infelizmente Padre Freitas não estava mais vivo para receber o nosso herói...

                 Foto 5 – Carta do Padre Freitas ao Presidente da Província do Piauí. 

 Com a idade avançada e já debilitado pela enfermidade de um câncer externo, Padre Freitas caminha para o seu final; sempre assistido pela esposa Dona Jesuína, os filhos, os escravos e amigos, com 70 anos de idade, depois de uma noite de Natal, em 26 de dezembro de 1868 (11), deixa o plano físico; desaparecia o Fundador de Piripiri; morria o Padre, morria o professor, o pai e esposo; o amigo, mas deixava a esperança plantada no coração dos que o conheceram e daqueles que, com certeza darão continuidade ao seu projeto para o lugarejo da fazenda Pery-Pery; deixava também o legado para todos os familiares e seus descendentes e nós piripirienses, nascidos ou não nesta Terra Bendita de Padre Freitas, a certeza de que somos um povo aguerrido, como fora o seu fundador, assim como, a nossa hoje Piripiri que desponta como uma das mais desenvolvidas cidades do Piauí.  

 

(1) A Casa do Padre Freitas ou Casarão dos Freitas da Fazenda Pery-Pery, era de estilo muito simples com paredes largas, portas e janelas muito amplas, compartimentos espaçosos; teto de carnaúba, piso de ladrilho, telha colonial. Casa aconchegante, onde Padre Freitas morava, com sua segunda esposa, Dona Jesuína Francisca da Silva e seus cinco filhos com sua primeira esposa. Foi à primeira edificação na localidade, construída pelo fundador de Piripiri, Padre Domingos de Freitas e Silva e que por muito tempo pertenceu a Família Freitas, depois vendida para a senhora Aurora de Sousa Pontes “Beleza”, sendo demolida no início dos anos 80, e em 06 de janeiro de 2014 a Prefeitura Municipal de Piripiri, através do então prefeito Odival José de Andrade adquiriu, do herdeiro Valdelício de Sousa Pontes, o local e que hoje funciona um bar, para no futuro reconstruir com base nos alicerces e em descrições dos muitos que conheceram o Casarão dos Freitas.

 

(2) Jesuína Francisca da Silva era filha de Antônio da Silveira Sampaio e Umbelina Francisca de Castelo Branco, casando em 1840 com o Padre Freitas,

 

(3) Os cinco filhos do Padre Freitas com a sua primeira esposa Dona Lucinda Rosa de Sousa, todos nascidos na Fazenda Capote, em Piracuruca:

1- Domingos de Freitas e Silva Júnior – “Freitas Júnior”, provavelmente nascido em 1831, foi casado com Carolina de Moraes Aguiar e Silva “Carola Freitas”, não deixaram filhos;

2- Raimundo de Freitas e Silva, casado com Arcângela de Sousa da Anunciação;

3- Porfírio de Freitas Silva, falecido em 1º de abril de 1899, no Amazonas, foi casado com Francisca Eufrásia da Silva;

4- Antônio Francisco de Freitas Silva;

5- Amélia Clemência da Silva, casada com Antônio Francisco de Sales; este, vindo provavelmente do Ceará.

 

(4) Fonte de água cristalina encontrada por Padre Freitas que serviu para o consumo humano de todo o lugarejo e também para atender a criação dos rebanhos de animais criados por ele. Por muitas e muitas décadas o olho d’água foi utilizado para matar a sede dos piripirienses e transformado em um bem público natural, em 1949, pelo então Prefeito Isidoro Machado Brito, quando urbanizou o local murando, construindo uma cobertura para proteger a fonte de água; uma Caixa D’água e que através de um motor puxava água da fonte onde era canalizada para as torneiras que a população se abastecia levando às casas o precioso líquido em animais com ancoretas, água em latas na cabeça de muitas mulheres, como também jovens e adultos que usavam duas latas (que vinha com querosene) penduradas por cordas fixadas em um pedaço de madeira, que carregavam no ombro.

    

(5) Os escravos que os filhos do Padre Freitas herdaram da mãe, Dona Lucinda Rosa de Sousa, foram: do filho Raimundo de Freitas Silva, o escravo Manoel; do Freitas Júnior, o escravo Francisco; do Antônio Francisco, Moisés; de Amélia Clemência, Salomão. Os escravos pertencentes ao Padre Freitas por ocasião do testamento: José Nação Angola, Camilo cabra, Antônio criolo, Samuel cabra, Jonas cabra, Tomázia criola.

 

(6) A visão altruística do Padre Freitas era tanta que planejou e realizou, em pleno século XIX, a reforma agrária urbana nesta região do Piauí na intenção, tão somente, de fazer grande o lugarejo que acabara de fundar. Indistintamente, em 1855, fez a doação de lotes de terras para quem quisesse construir suas casas.

 

(7) Quando a população do lugarejo aumentou o Padre Freitas preocupado com as ovelhas cristãs do seu rebanho e com a Paróquia de Nossa Senhora dos Remédios, demarcou judicialmente parte de suas terras e doou para o patrimônio da Santa Padroeira registrando em livro próprio no documento intitulado: “AUTO de Inventário dos Bens Patrimoniais”, datado em 10 de dezembro de 1857, na Vila de Piracuruca, Comarca da cidade Parnaíba, Província do Piauí. Ver livro de Judith Santana “O Padre Freitas de Piripiri – Fundador de Piripiri” – 1984. Pág. 23, 24, 25 e 26.

 

(8) Testamento do Padre Freitas: um documento valioso para a historiografia de Piripiri e para a família Freitas; nele, estão resumidamente descritas à vida do fundador, informações de família e da Fazenda Pery-Pery. 

 

(9) Franklin Américo de Meneses Dória (12.07.1836-28.10.1906) advogado, orador, político, poeta e magistrado, governou a Província do Piauí de 28.05.1864 a 03.08.1866. Em 8 de junho de 1865, Padre Freitas escreveu a ele manifestando os motivos das dificuldades de arregimentar mais homens da região para a Guerra do Paraguai. Alguns trechos da carta ainda indecifráveis.

 

(10) Raimundo Gomes das Neves nasceu na redondeza da região da hoje Piripiri, provavelmente em 1840 e cresceu na localidade Serrinha. Com 25 anos o jovem Raimundo e outros irmãos seus se ofereceram para se alistar como Voluntário da Pátria para a Guerra do Paraguai. Ao voltar cumpriu a promessa, casou-se com Anna Joaquina Raimunda da Silva com quem teve 13 filhos. Há algumas controvérsias sobre os nomes verdadeiros e idades de alguns dos seus filhos, porém vamos procurar nominá-los, mesmo assim: 1- Benvindo Gomes das Neves; 2- Antônio Gomes das Neves; 3- Senhorinha Gomes das Silva; 4- Claudionor Gomes das Neves; 5- Izabel Gomes da Silva; 6- Segismunda Gomes da Silva “Dona Xis”; 7- Maria Joana da Silva “Dona Mariquinha”; 8- Joaquim Gomes das Neves; 9- Jovelina Raimunda da Silva, “Dona Jovem”; 10- Estolina Raimunda da Silva “Dona Tó”, casada com Gonçalo do Carmo Sant’yago “Gonçalo Custódio”; 11- Anna Jovita da Silva “Dona Donana”, casada com Benedito Elias de Sousa; 12- Venina Gomes da Silva e a última, nasceu morta.

A Dona Mariquinha era a mãe de Valdemar Paulino Gomes, conhecido por “Valdemar Mariquinha” que por muitos anos trabalhou na fábrica de telhas e mosaicos de Hamilton Coelho de Resende, pai do ex-deputado federal Murilo Rezende e, também era avó do sanfoneiro Salmeron; Dona Jovem faleceu em 1959 de uma queda no “corte do trem”; o Joaquim era o pai da Raimunda Nonata das Neves “Nonata Vaca”; Dona Tó foi casada com Gonçalo Custódio; Dona Donana foi casada com o Benedito Elias de Sousa que são os pais da família “os Elias”.

    

(11) O desaparecimento do Padre Freitas deixou o pequeno povoado da Fazenda Pery-Pery entristecido; muitos acorreram à Casa-Grande de sua fazenda para prestar-lhe a última homenagem. Talvez, não se sabe ao certo, se foram feitas todas as suas vontades descritas por ele em seu testamento. Na verdade o corpo de Padre Freitas foi sepultado na Capela de Nossa Senhora dos Remédios, que era bem no centro da hoje Rua João de Freitas e demolida em 1940, quando foi construída outra capela no local onde hoje ainda se encontra, já com o nome de Capela de Nossa Senhora do Rosário, defronte a Unidade Escolar “Padre Freitas”. No lugar da capela demolida em 1940, foi erguido um túmulo/monumento no meio da Rua João de Freitas, com a seguinte inscrição: “HOMENAGEM DO POVO PERIPERIENSE À MEMÓRIA DO FUNDADOR DA CIDADE PADRE DOMINGOS DE FREITAS 1844 – 1940”, que perdurou até o ano de 1977, que em nome do progresso, o dito túmulo/monumento, foi simplesmente demolido para passar o asfalto e muitos anos à lápide com a citada inscrição foi fixada na parede exterior frontal da capela. Na primeira Gestão do prefeito Odival Andrade foi construída uma réplica do monumento/túmulo em frente à Capela.  

 

FONTE:

1- Judith Santana – PIRIPIRI – 1972.

2- Judith Santana – o Padre Freitas de Piripiri (Fundador da Cidade) – 1984.

3- Cléa Rezende Neves de Melo – Memórias de Piripiri: 1992.

4- Maria Leonília de Freitas, Francisco Antônio Freitas de Sousa e Francisco Newton Freitas – Professor Felismino Freitas: educação como missão e vocação. Teresina: Zodíaco, 2009.

5- Almanaque de Piripiri – Evonaldo Cerqueira de Andrade: 2013 -1ª Edição.

6- Fabiano Melo – Ruas, Avenidas e Praças de Piripiri: 2008 – 1ª Edição.

7- Informações do site: Family search.

8- históriadepiripiriparaestudantes.blogspot.com.br . Professor Marco Matos

9- Wikipédia, a enciclopédia livre.

 

10- BRAVOS DO PIAUÍ! ORGULHAI-VOS. SOIS DOS MAIS BRAVOS BATALHÕES DO IMPÉRIO: a propaganda nos jornais piauienses e a mobilização para a guerra do Paraguai (1865-1966). Johny Santana de Araújo. – 2009. Tese de Doutorado – Universidade Federal Fluminense, Instituto de Ciências Humanas e Filosofia, Departamento de História, 2009. 



HISTÓRIA DE PERY-PERY A PIRIPIRI - PARTE I

 Luiz Mário de Morais Getirana

 

Não temos nenhum propósito de distorcer os fatos históricos de Piripiri, a história ou genealogia de nosso fundador. Nosso intento é somente descrever, reescrever e acrescer, através de pesquisa, fatos de nossa história para não se perder no tempo voraz, em muitas vezes, traiçoeiro com a cultura e a história dos povos. Portanto, vamos passear um pouco por nossa HISTÓRIA. 

 

Fatos precursores mais remotos da História de Piripiri

 

Padre Freitas e Piripiri se confundem nas suas existências; um dependeu do outro para iniciarem a conquista dos objetivos pessoais e coletivos do fundador e da região. Um já se foi, o Padre, que plantou a semente que germinou Piripiri nesta terra de caudalosos olhos d’água, riachos e rios; rica vegetação e de animais também silvestres; e pelas cercanias as fazendas dos coronéis da terra e do gado, como cita Judith Santana: Gameleira - da família Castelo Branco. Casa das Lages - o casal Bernardo José do Rego Castelo Branco/Cândida Rosa Castelo Branco. Casa do Desterro: Onofre José de Melo / Cecília Maria das Virgens. Casa do Curral de Pedras: Simplício Coelho de Rezende / com a primeira esposa: Rosa Lina de Castelo Branco, seis filhos”, dentre eles o Coronel Antônio Coelho de Rezende, patriarca dos Rezende de Piripiri. Casa da Caiçara: Geracinda Rosa de Melo / Diógenes Benício de Melo. Casa do Piripiri do Corrente: José Joaquim da Silva Rebelo / Donata Joaquina de Oliveira Castro. Casa da Residência: Florindo Francisco de Sousa Castro, e mais, os Rego, os Alves Ferreira, os Mendes do Amaral, os Félix da Silva, os Oliveira Fernandes, os Oliveira e Silva, os Gonçalves Medeiros, os descendentes de João Paulo da Silva Rebelo / Teresa Rosa de Jesus, da Casa da Chapada, os Araújo da Silva, chefiados por Francisco Rabelo de Araújo e Silva, Estêvão Rabelo e Antônio Albino de Araújo e Silva; os Carvalho; os Andrade, os Sousa Memória e muitos outros. Era tudo que tinha nestas regiões da Data Botica (dos Medeiros) antes da chegada do desbravador bandeirante piauiense, Padre Freitas. O outro é Piripiri esta cidade acolhedora, progressista, cantada em prosa e verso por seus filhos legítimos e de adoção; cidade que se desenvolve rapidamente e espera, a cada dia, dos seus filhos, das autoridades constituídas civis, eclesiásticas e militares um olhar mais humanista e mais cristão; que se pense mais no coletivo, assim como o próprio fundador deixou para nós este legado que é de responsabilidade de todos.

Mas não podemos falar de Padre Freitas e de Piripiri sem antes abordar a região norte do Piauí, primeiro dos nativos – os índios Tremembés,            os primeiros habitantes da região norte, no Delta do Parnaíba, tidos como ágeis nadadores e mais tarde aldeados pelos Jesuítas. Depois os colonizadores portugueses e por fim os brasileiros piauienses, cearenses, maranhenses, pernambucanos e baianos. Dentre os muitos portugueses que para aqui vieram destacamos os “Dias da Silva”, na pessoa de Domingos Dias da Silva e familiares, primeiro ficaram na Barra do Longá e mais tarde na região do Porto das Barcas. Com a morte de Domingos Dias da Silva, seu filho Simplício Dias da Silva, o lendário “Simplição da Parnaíba”, herdeiro de seu pai e da rica região onde se destaca a CASA GRANDE DA PARNAÍBA, o símbolo do poder autoritário, do comércio do gado, das charqueadas e do cultivo da terra que deu continuidade ao desenvolvimento da região. 

  

 

 

Mas foi na Vila de São João da Parnaíba nos idos de 1798 que nasceu Domingos de Freitas Caldas Júnior, o nosso Padre Freitas. Seu pai Domingos de Freitas Caldas, natural de Portugal, ligado por laços de parentesco com os Dias da Silva casa-se com Rita Maria de Almeida e constitui a família com cinco filhos, a saber: José, falecido quando criança; Catarina de Sena e Silva; Maria Rita da Silva; Bernardo de Freitas Caldas e o caçula da família, Domingos de Freitas Caldas Júnior. Porque Silva e não Caldas? O nome do Padre Freitas foi alterado para Domingos de Freitas e Silva. Àquela época era comum que o afilhado recebesse o sobrenome do padrinho, que no caso era o reverendo Henrique José da Silva.

Pela historiografia de Parnaíba o português Domingos de Freitas Caldas pai do Padre Freitas chegou à região litorânea da então Província do Piauí no século XVIII. Era pessoa amiga e de muita confiança dos Dias da Silva e foi por muito tempo responsável pelo Cartório da Vila de São João da Parnaíba onde exerceu a função de escrivão e mais tarde passou essa tarefa para o seu filho Bernardo de Freitas Caldas, portanto, irmão do Padre Freitas.

Dentre as irmãs do Padre Freitas, a Maria Rita da Silva, casada com Brás José Muniz, uma das filhas do casal, Bernarda Rita da Silva, foi casada com Domingos Alves Ferreira, bisavô materno da historiadora Judith Alves Santana. (1)

O Padre Henrique José da Silva padrinho do Padre Freitas vendo que seu afilhado, jovem e inteligente, tinha um futuro promissor sugere aos seus pais a ser padre e que o mantem com todas as despesas necessárias no que decidem encaminhá-lo a estudar no Seminário de Olinda. Nesta cidade pernambucana conhece a jovem Lucinda Rosa de Sousa, descendente de holandeses, e começa um relacionamento amoroso, se tornando insustentável a sua permanência naquela cidade, por isso a direção da Diocese de Olinda, responsável pelo Seminário, nesta ocasião, o transfere para o Seminário de São Luís-MA, onde conclui os estudos e é ordenado presbítero secular.

Ainda em São Luís do Maranhão, Padre Freitas inicia sua vida ministerial, adquire bens imóveis, mas em seguida retorna a sua terra natal, a Vila de São João da Parnaíba, como sacerdote atuante e, mais tarde, se torna regente da cadeira de latim. Padre Freitas era pessoa influente pela sua capacidade de convencimento e de visão futurista para sua época, à amizade do seu padrinho e com a família dos Dias da Silva. Porém, neste período, chega a Vila de São João da Parnaíba, Dona Lucinda Rosa de Sousa e em seguida os acontecimentos das lutas pela Independência do Brasil; e o Padre Freitas não se omite, sendo um dos partícipes deste movimento na Vila de São João da Parnaíba.    

Quando se irrompe o movimento de Independência do Brasil, em 7 de setembro de 1822, em São Paulo, no conhecido episódio das margens do Riacho Ipiranga, a Vila de São João da Parnaíba, situada ao norte da Província do Piauí teve, em primeira mão, conhecimento da separação do Brasil de Portugal. Por isso, as lideranças políticas da Parnaíba simpáticas ao rompimento do Brasil com a Coroa Portuguesa, aderem ao movimento, se insurgem e a 19 de outubro de 1822, declaram independentes do Reino de Portugal. O movimento é liderado pelo Juiz de Fora João Cândido de Deus e Silva, o fazendeiro Simplício Dias da Silva, José Ferreira Meireles, Ângelo da Costa Rosal, Bernardo de Freitas Caldas, Joaquim Timóteo de Brito, também o nosso Padre Freitas e outros, que nesta ocasião proclamam a Independência em relação a Portugal, pela Câmara Municipal de Parnaíba, numa solenidade, até então, nunca vista. A província do Piauí adere à causa da Independência do Brasil.

João José da Cunha Fidié, à época, era o Governador das Armas do Piauí, e estava em Oeiras, quando soube do ocorrido na Vila de São João da Parnaíba, ruma ao norte para sufocar o movimento no litoral, com seus comandados; uns a cavalo, outros a pé, numa marcha longa, cansativa e penosa. (2) Com a aproximação das tropas de Fidié, os “milicianos” do movimento separatista da Vila de São João da Parnaíba, reconhecendo a inferioridade bélica, resolvem em 4 de dezembro de 1822 se refugiarem em Granja-CE, e só depois de alguns meses, retornam, mas temendo retaliações na Vila, Padre Freitas se refugia em terras da região de Piracuruca transformando sua vida num verdadeiro mistério, e que daí várias versões se encarregam de marcarem a vida do sacerdote.

Quando os insurretos estavam ainda em Granja-CE, Padre Freitas e outros companheiros conseguem mobilizar e trazer quantidade razoável de pessoas para lutarem nos movimentos de 22 de janeiro de 1823, na Lagoa do Jacaré, liderado por Leonardo de Carvalho Castelo Branco, na Vila de Piracuruca e na Batalha do Jenipapo, dia 13 de março de 1823, na Vila de Campo Maior. Depois Padre Freitas retorna à Vila da Parnaíba, no entanto sua presença não é bem vista pela sociedade de então e pela Igreja que lhe transfere para a Paróquia de Nossa Senhora do Monte do Carmo, na Vila de Piracuruca, já com a Dona Lucinda Rosa de Sousa, onde divide com o Padre José Monteiro de Sá Palácio os destinos daquela Paróquia. Para efeito de informação transcrevemos um documento de óbito daquele ano assinado pelo Padre Freitas, como vigário da Paróquia de Piracuruca:

“Aos vinte quatro do mêz de septembro de mil oitocentos e vinte e trêz nesta Igreja Matriz de Piracuruca sepultousse Roza Maria Brito, natural dessa freguezia, Viúva: morreu de febres: foi em volta em habito de S.Francisco emcomendado por mim e para constar fiz este assento que assigno= Vigário Padre Domingos de Freitas Silva”

Fonte: Karithiane Haffizza Mill Medeiros Lustosa – “Domingos de Freitas e Silva Para Além das Rupturas e Para Toda a Eternidade: o Homem Vestido de Batina” – pág. 38.

 

 

 

Quando Padre Freitas foi residir na então Vila de Piracuruca fixou moradia na localidade Gameleira com Dona Lucinda e duas filhas dela nascidas de outra união, Lucinda Rita da Silva que casou com o Capitão Bernardo Lopes Castelo Branco e Joana Paula da Silva que casou com Manoel da Silveira Sampaio, e lá nasceram os filhos do casal: Domingos de Freitas e Silva Júnior, o “Freitas Júnior”; Raimundo de Freitas e Silva; Porfírio de Freitas Silva; Antônio Francisco de Freitas Silva e Amélia Clemência da Silva. (3)

Como o Padre Freitas não podia batizar seus próprios filhos coube à incumbência ao seu colega, o Padre Sá Palácio, vigário da Paróquia de Nossa Senhora do Carmo de Piracuruca o que transcrevemos o documento de batismo de Domingos de Freitas e Silva Junior, o Freitas Júnior:

“Aos vinte e oito dias do mês de outubro do anno de mil oitocentos e trinta e hum, no Oratório Publico do Sítio da Gameleira, Freguesia de Nossa Senhora do Carmo de Piracuruca, baptizei a Domingos filho natural de Dona Lucinda Rosa de Sousa e lhe pus os sanctos óleos: Forão padrinhos Francisco José do Rego Castelo Branco e sua mulher Theresa Eugenia Maria de Jesus moradores do Sitio Baixão na mesma de Piracuruca. E para constar fiz este assento em que me assigno.” José Monteiro de Sá Palácio = Vigário”

Fonte: Karithiane Haffizza Mill Medeiros Lustosa – “Domingos de Freitas e Silva Para Além das Rupturas e Para Toda a Eternidade: o Homem Vestido de Batina” – pág. 41

 

 Na realidade, o Padre Freitas com sua primeira esposa, Dona Lucinda Rosa de Sousa, tiveram 7 filhos, as duas primeiras filhas faleceram muito antes dele escrever o seu Testamento. Dona Lucinda, faleceu em 1839, na localidade Gameleira e foi sepultada na Igreja de Nossa Senhora do Carmo. Portanto, no Testamento escrito pelo próprio Padre Freitas, em 1862, ele cita apenas os cinco filhos vivos com Dona Lucinda e sete com sua segunda esposa Dona Jesuína Francisca da Silva. 

 

 

 

 A situação torna-se complicada e com família constituída, o Padre Freitas decide, em 1840, deixar Piracuruca e vir primeiramente para a Fazenda Anajá (ao norte de Piripiri, próximo onde é hoje o Açude Anajá). Ali, Padre Freitas constrói uma casa e uma pequena capela de palha; instala engenho de cana, equipamentos para fabricar farinha e alambique para o fabrico da cachaça; plantações de frutas e cereais e criação de animais e escravos para os serviços domésticos e do campo. Depois, de 1840 a 1844, compra dos Medeiros terras na região denominada BOTICA pertencente à SESMARIA concedida a Antônio Fernandes de Macedo, em 1777. Foi nas proximidades de um olho d’água, depois denominado de “Olho D’Água de Nossa Senhora dos Remédios”, que Padre Freitas constrói a sua Casa- Grande dos Freitas, da Fazenda Pery-pery (4); uma Capela em honra a Nossa Senhora do Rosário, em homenagem aos negros escravos e também currais. Está fundada, portanto, a cidade de Piripiri – 1844.

 

 

(1) Domingos Alves Ferreira foi casado com Bernarda Rita da Silva, filha de Maria Rita da Silva, irmã do Padre Freitas e que tiveram, do nosso conhecimento, 03 três filhos: 1- Domingos Alves Ferreira que se casou com Izabel Alves de Jesus ou Izabel Maria de Jesus que são os pais de: “Raimundo Alves” Ferreira; Acelina Alves Sampaio “Cilu”; Genuína Alves Ferreira (mãe de Judith Santana); Dina Maria Alves Ferreira; Domingos Alves Filho “Mingo”; e Antônio Alves Ferreira Sobrinho. 2- Antônio Alves Ferreira que se casou com Joanna Paula da Silva, depois de casada mudou o nome para Joana Paula Alves Ferreira que são os pais de: Adelina Alves Ferreira (mãe de Murilo Rezende); Álvaro Alves Ferreira; Maria Emília Alves Ferreira; Adérson Alves Ferreira (pai de Antônio Ferreira Neto “Ferreirinha”); Odilon Alves Ferreira e Oscar Alves Ferreira (pai da Professora Mirtes Ferreira) e 3- Liberato Alves Ferreira que se casou com Raimunda Fontenelles que são os pais de Maria do Carmo Fontinelles, Benedicta Ritta Fontinelles e Joanna Ritta Fontinelles.

  

(2) 13 de novembro de 1822: Fidié e sua tropa, ao som de clarins e tambores, deixam Oeiras e seguem rumo a Vila de São João da Parnaíba percorrendo aproximadamente 900 quilômetros. A maioria dos soldados percorreram a pé este trajeto e muitos deles descalços, numa época de seca e chegavam a andar entre 24 a 30 quilômetros por dia pelas veredas e caminhos acidentados. A alimentação para dar sustança e resistência aos comandados de Fidié era à base de carne bovina (reserva proteica), farinha (carboidrato) e rapadura (reserva de energia).

 

(3) Amélia Clemência da Silva foi a 5ª filha de Padre Freitas com Dona Lucinda Rosa de Sousa, se casou com Antônio Francisco de Sales, pais de Domingos Francisco de Sales e Raimundo Francisco de Sales, este, casado com Diolinda Florinda de Castro, pais de Amélia de Castro Sales; Maria Amélia de Castro Sales; Antônio Francisco de Sales (Neto); Carlota Francisca de Sales; Justina Francisca de Sales e Francisco Raimundo de Sales.    

 

(4) Primeira denominação dada ao local da hoje cidade de Piripiri. De origem tupi, pery-pery tem vários significados e dentre eles a planta junco encontrada em regiões alagadas e segundo algumas opiniões de historiadores por ter nestes locais alagadiços em grande quantidade, daí pery-pery para designar pluralidade.

 

 

 

FONTE:
1- Judith Santana – PIRIPIRI – 1972.
2- Judith Santana – o Padre Freitas de Piripiri (Fundador da Cidade) – 1984.
3- Cléa Rezende Neves de Melo – Memórias de Piripiri: 1992.
4- Maria Leonília de Freitas, Francisco Antônio Freitas de Sousa e Francisco Newton Freitas – Professor Felismino Freitas: educação como missão e vocação. Teresina: Zodíaco, 2009.
5- Almanaque de Piripiri – Evonaldo Cerqueira de Andrade -1ª Edição.
6- Fabiano Melo – Ruas, Avenidas e Praças de Piripiri: 2008 – 1ª Edição.
7- Informações do site: Family search.
8- Karithiane Haffizza Mill Medeiros Lustosa - Domingos de Freitas e Silva Para Além das Rupturas e Para Toda a Eternidade: o Homem Vestido de Batina – 2014
9- Wikipédia, a enciclopédia livre.
10- Revista Piauí Terra Querida: Liberdade – 4ª Edição – 13 de março de 2012.
11-
https://www.dicionariodenomesproprios.com.br/peri/

12- Página do facebook da Fazenda Anajás. 

 

 



Apresentação da Coluna Historiando

Muito já se falou e escreveu sobre nossa cidade – Piripiri; principalmente a sua história, seu povo, personalidades, famílias... Porém sempre me fascina falar algo de bom de nossa cidade, que informe, que construa saberes. É com este propósito que me disponho a colaborar com o site Piripiri Cultural do professor, historiador e pesquisador Evonaldo Andrade. Vamos apresentar aos internautas estudiosos, curiosos e defensores da nossa “Capital do Mundo” a sua história, a História de Piripiri. Vamos reescrevê-la com textos educativos, instrutivos, questionamentos, baseados na historiografia existente, em sites, revistas, documentos oficiais, informações orais e de próprio testemunho de fatos acontecidos sobre nossa história; “causos”; particularidades e curiosidades. Não temos o propósito de desbancar ninguém, mas somar e diversificar informações de modo a preservar nosso passado, registrar o presente e traçar diretrizes para o futuro, que acreditamos promissor.

     Diante disto abrimos as páginas eletrônicas de nossa coluna HISTORIANDO, no site “Piripiri Cultural”, para dá boas-vindas a todos e a todas a se deleitarem no mundo encantado de nossa “terrinha” e agradecer ao Evonaldo por confiar em nós por assinar esta coluna e também aos internautas pelos acessos.

     Estamos totalmente abertos a críticas e ao harmonioso convívio tudo em nome da urbanidade e de enriquecer ainda mais a nossa história.

 

 

Professor Luiz Mário de Morais Getirana

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