Lendas de Piripiri II

Por Evonaldo Andrade

 

Postado pela primeira vez numa quarta-feira,  26 de dezembro de 2012, 12h13min.

            Entende-se por lenda qualquer narração que trate de histórias fantásticas, criadas a partir da imaginação popular e que não se pode comprovar sua autenticidade. Partindo deste princípio, a nossa sexta postagem, “Nossa Senhora de Furnas”, será considerada a primeira lenda publicada neste almanaque.

LENDA DE SANTO ANTÔNIO DA TOCAIA

            1932, o sertão nordestino padecia, vitimado por inclemente seca. Os mais velhos contam que, para os sertanejos não morrerem de fome, ralavam a raiz da mucunã, produzindo uma farinha “intragável” que teria de ser lavada em pelo menos “sete águas”, por causa de sua toxicidade. A vegetação morria, os rios secavam, o gado desaparecia, as pessoas faleciam, o sertão corria o risco de se acabar.

            Em meio há tanto sofrimento, um pequeno lugarejo, no interior do Piauí, resistia às intempéries da estiagem, graças à sua fé e perseverança. Os moradores da comunidade Tocaia conviviam estoicamente com o fraco inverno de 1932 e sabiam aproveitar o pouco que a natureza lhes oferecia.

            Foi, nesse cenário de penúria, que, no mês de junho de 1932, moradores desse povoado piripiriense, ouviram um som estranho e alto. O barulho era incompreensível naquela época, mas hoje, dizem se parecer com o de um avião voando baixo. Curiosas com o tal barulho, algumas pessoas se dirigiram ao local onde o ruído se fazia mais alto, agrupando-se no olho d’água que generosamente abastecia a comunidade. Para espanto geral, algumas pessoas avistaram a imagem de Santo Antonio no meio de um funil produzido pelas águas da fonte. Em razão de a aparição ter sido vista no mês de junho e a sua aparência lembrar Santo Antônio, os moradores passaram a creditar a imagem vista ao santo casamenteiro. 

            Dona Luiza, esposa de seu Moraes Barros, afirma que a primeira pessoa a avistar o santo foi Dona Nazaré (a Dona Naza).

            Antônio Silva, conhecido por Antonino, diz ter visto, por duas vezes, um vulto perfeito, parecido com Santo Antônio. Essa imagem do Santo teria aproximadamente vinte e cinco centímetros e estava dentro de um funil de diâmetro igual ou superior a trinta centímetros.

            Por ser o santo casamenteiro, o fundo do olho d’água (local das aparições) está repleto de alianças, cordões de ouros e outros objetos de valor, atirados à fonte como pagamento de promessas e graças alcançadas.

            Há cerca de cinco anos, um grupo de meninos, numa atitude desrespeitosa, entupiram o olho d’água, desdenhando dos “poderes” do Santo. Coincidentemente, a partir deste ato de vandalismo, mesmo após a limpeza do local, o Santo não mais apareceu. 

            O povoado Tocaia está situado entre as localidades Vertentes e Palmeiras dos Urquizas. Além da prática de agricultura e pecuária, a comunidade é conhecida por suas moagens, além de abrigar um povo alegre, hospitaleiro e religioso. 

→ Crédito: Informações prestadas por Dona Luiza (esposa de seu Moraes Barros); por seu Antônio Silva (Antonino) e outros moradores . Imagens: Arquivo pessoal e do Livro: "Tocaia - A espreita de um futuro - Mobral. Projeto 28, volume 07".

 

Obs.: A informação sobre o ano da 1ª  aparição (1932) foi colhida no livro: "Piripiri - PI. Zona Rural, Pauta Maior da Adm. Luiz Menezes".