Calixto, o Santo de Piripiri

 

Por Evonaldo Andrade

 

Postado pela primeira vez numa quinta-feira, 22 de agosto de 2013, 19h08min.

            1932 foi um ano de desagradáveis acontecimentos. Piripiri perdeu vários filhos, alguns desconhecidos e outros que deixaram sua marca na história do município, como João de Freitas e Silva, Coronel Thomaz Rebello e sua filha Cassiana Rocha.

            1932 também ficou conhecido como o ano de umas das piores secas que o Piauí enfrentou, talvez até maior que as secas de 1915 e 1877.

            Foi nesse cenário de penúria que se inicia uma bonita história de devoção e fé.

            Calixto era um pacato cidadão que residia na zona rural de Piripiri.  Apesar de pobre, era uma pessoa caridosa.

            Naquele verão contínuo de 1932, Calixto convida seu cunhado para acompanhá-lo numa pequena viagem à Periperi. Calixto sentia umas dores fortes na região do estômago e, por isso, evitava andar sozinho.

            O motivo do deslocamento do interior para a “rua” (como era chamada a zona urbana) era para comprar alguns mantimentos para o sustento de sua família.

            Na volta, Calixto sentindo fortes dores na região estomacal, pede para seu cunhado levar suas compras, pois o mesmo descansaria e, assim que melhorasse, seguiria seu caminho.

            O cunhado obedece ao pedido de Calixto e faz o caminho de volta para casa, deixando Calixto sob a sombra de um crioli (árvore frutífera nativa de nossa região). Melhorando um pouco,  Calixto deixa o local onde estava, seguindo em direção a uma “mata de criolis” e lá, parando mais uma vez, é acometido por um dor lancinante. Com sede, fome, Calixto não resistiu muito tempo. Seu cunhado, estranhando a demora do amigo, retorna ao local onde deixara Calixto descansando, mas não o encontra. Anda em diversas direções e desiste da busca.

            Próximo a essa mata de criolis, morava Dona Maria Generosa, mãe do adolescente Antônio Generosa. A humilde casa de Dona Maria Generosa foi levantada no local onde hoje está construído o prédio da extinta Cibrazem. 

            Antônio Gomes da Silva (Antônio Generosa), com então quinze anos de idade, caçava de baladeira próximo a sua casa. Ao acertar uma rolinha, Antônio sai à procura da pequena ave, mas não a encontra. Resolve procurar mais adiante, em direção à mata de criolis (onde hoje funciona o supermercado “Comercial Carvalho”) quando sente um forte  e desagradável cheiro. Ao se aproximar do local, depara-se com o corpo de Calixto, já em estado de decomposição. Os urubus já estavam furando o corpo.

            Como era costume da época, os presos enterraram o cadáver.  Seu corpo foi sepultado no mesmo local onde fora encontrado. No local não havia ruas, somente estreitos caminhos e veredas pelos quais transitavam poucas pessoas.

            O exato local onde Calixto faleceu fica próximo à margem da Rua Coronel Antônio Coelho e a poucos metros da esquina da referida rua com a Rua Diógenes Coelho.

            O local do túmulo foi, em pouco tempo, bastante frequentado por devotos, que depositavam oferendas e ex-votos, rezavam terços, soltavam foguetes. O fluxo de pessoas era maior nas segundas-feiras (possivelmente o dia em que foi sepultado).

            Corina Rodrigues da Silva, filha do Sr. Joaquim Rodrigues da Silva (Joaquim Bicudo, já falecido) cansou de ouvir seu pai contar essa história. Segundo Corina, seu pai era amigo de Calixto e de seu Antônio Generosa. Ela sempre ouvia seu Joaquim comentar que Calixto não consumia bebidas alcoólicas. Corina não consegue recordar o nome do cunhado de Calixto nem de sua esposa. Mas ouviu seu pai dizer que a esposa de Calixto só visitou o túmulo na visita de um ano. Também não recorda o nome do interior que Calixto morava, mas sabe que é deste município de Piripiri.

            Um fato interessante, dentre as várias graças e milagres alcançados por quem fez promessas ao “santo”, foi o do  recruta Horácio Luiz de Melo (já falecido). A história a seguir é contada por Dona Corina e Dona Mazé Melo (filho de seu Patriota e irmã de Horácio).

            Horácio Luiz de Melo servia o Exército em Teresina, quando foi acusado pelo desaparecimento de uma arma. O recruta foi ameaçado de todas as formas por seu comandante, mesmo negando a autoria do “furto”. O comandante deu um último prazo para o desvalido recruta: na manhã seguinte seria submetido a um interrogatório, ocasião em que, se não confessasse, sofreria terríveis consequências.

            Patriotino Benício de Melo (Patriota) pai do recruta Horácio, lembra-se dos milagres atribuídos ao Santo de Piripiri. Faz um pedido à alma de Calixto, que se o filho “escapasse” daquela enrascada, construiria um cruzeiro e uma casinha (para guardar as oferendas e ex-votos depositados no local do túmulo de Calixto).

            Na manhã seguinte à promessa, aparecem dois soldados para conduzirem Horácio à presença do irado comandante.  Penalizado com a situação injusta do recruta e com uma forte crise de consciência, um cabo do Exército devolve a arma ao comandante, assumindo o furto do objeto.

            Desgostoso com o constrangimento pelo qual passara, Horácio abandona o sonho de seguir carreira militar e retorna a Piripiri. Em nossa Cidade, Patriota cumpre o que prometera a Calixto e constrói no local de sua sepultura, um cruzeiro e uma casinha.

            Patriotino Benício de Melo casou-se duas vezes. Em primeiras núpcias com Cecília Melo, com quem teve os filhos: Horácio Luiz de Melo, Maria de Carvalho Melo Medeiros, Antônia de Carvalho Melo Brito e Antônia Cecília de Melo Monte. De seu segundo casamento, com Dona Lina de Melo Medeiros, nasceram-lhes os filhos: Higina Rosa de Melo, Raimundo Gonçalves de Melo, Cecília Maria de Melo, Maria José de Melo e Alice Rosa de Melo.

Sobre a foto acima: na primeira filha, da esquerda para a direita, Maria José de Melo, Patriotino Benício de Melo Filho e Higina Rosa de Melo (filhos de seu Patriota). Logo atrás: Maria dos Remédios Assunção Medeiros e seu marido Antônio de Melo Medeiros Filho (Neto de seu Patriota) e Evonaldo Andrade.

                        O prefeito Jônatas Melo (nascido no mesmo ano do falecimento de Calixto), por ocasião de sua segunda administração, faz uma doação do terreno onde estava sepultado o corpo de Calixto a um senhor (cujo nome será omitido). Essa pessoa nega que o túmulo estivesse no local de sua casa, mas o certo mesmo é que à medida que as casas foram sendo construídas, as oferendas e ex-votos iam sendo "empurradas" em direção à esquina contrária (Rua Cel. Antônio Coelho com Rua Licínio de Brito Melo). Não existe mais o cruzeiro e a casinha. Hoje, a cruz  e ex-votos estão sob a sombra de frondosa castanhola, plantada na lateral oeste da Rua Licínio de Brito Melo, atrás do prédio do novo “Complexo de Delegacias de Piripiri”.

Em junho de 2004, O casal Olímpio e Verbena Nogueira mudam-se para a casa nova, construída no lado oposto da rua, defronte ao túmulo itinerante de Calixto.

             Com a construção do muro do prédio do Complexo de Delegacias, o local do culto a Calixto é preservado.

            Verbena Nogueira, interessada e fascinada com a história de Calixto, procura o Pároco Frei Fernandes que, no dia 18 de fevereiro de 2014, realiza a benção do Memorial Milagroso Calixto. Na segunda-feira seguinte, 19 de outubro, foi rezado o primeiro terço.

            Verbena lembra que, no dia da benção, houve forte chuva e a Rua Licínio de Brito Melo ficou alagada. A benção do Memorial foi realizada no terraço de sua casa, voltada para o local de devoção.

Sobre as duas fotos acima, primeira comemoração junina (sábado, 28 de junho de 2014). O primeiro “arraiá” só aconteceria um ano depois.

                

            Sobre a foto acima, apresentação de índios piripirienses no 2° Arraiá do Calixto. José Guilherme da Silva, primeiro à esquerda, Cacique da Comunidade Itacoatiara, Evonaldo e índios Tabajaras

            Em 2015, comemorou-se, no período de 25 de outubro a 02 de novembro, o primeiro Novenário de Finados (Festejos do Memorial Milagroso Calixto).

Sobre as três fotos acima – Festejos do Memorial Calixto (2015)

Oração ao Milagroso Calixto

 

Milagroso Calixto, vós que vivestes as dores terrenas,

intercedei por nós para aliviar nossos sofrimentos.

 

Milagroso Calixto, vós que morrestes sozinho,

intercedei por nós para acalentar nossos momentos de angústias.

 

Milagroso Calixto, vós que passastes por sede, fome, frio e calor,

intercedei por nós para atenuar nossas necessidades.

 

Milagroso Calixto, intercedei por nós, junto aos santos, anjos e arcanjos

e perante Deus, para que nos sejam concedidas as graças Divinas

conforme nossas possibilidades, merecimentos e necessidades.

 

Por Nosso Senhor Jesus Cristo, Filho de Deus, na unidade do Espírito Santo.

 

Amém!

 

 (Oração criada pelo Jornalista Willekens Van Dorth)                                                                                                                                                                                                                                                              

  

 

Créditos: Informações prestadas por Corina Rodrigues da Silva, Luís Rodrigues da Silva, Armilo de Sousa Cavalcante, Maria José de Melo, Maria das Graças Silva (Graça Generosa) e Verbena Nogueira.

 

Fotos: Acervo de Verbena Nogueira e Evonaldo Andrade.