HISTÓRIA DE PERY-PERY A PIRIPIRI - PARTE I

 Luiz Mário de Morais Getirana

 

Não temos nenhum propósito de distorcer os fatos históricos de Piripiri, a história ou genealogia de nosso fundador. Nosso intento é somente descrever, reescrever e acrescer, através de pesquisa, fatos de nossa história para não se perder no tempo voraz, em muitas vezes, traiçoeiro com a cultura e a história dos povos. Portanto, vamos passear um pouco por nossa HISTÓRIA. 

 

Fatos precursores mais remotos da História de Piripiri

 

Padre Freitas e Piripiri se confundem nas suas existências; um dependeu do outro para iniciarem a conquista dos objetivos pessoais e coletivos do fundador e da região. Um já se foi, o Padre, que plantou a semente que germinou Piripiri nesta terra de caudalosos olhos d’água, riachos e rios; rica vegetação e de animais também silvestres; e pelas cercanias as fazendas dos coronéis da terra e do gado, como cita Judith Santana: Gameleira - da família Castelo Branco. Casa das Lages - o casal Bernardo José do Rego Castelo Branco/Cândida Rosa Castelo Branco. Casa do Desterro: Onofre José de Melo / Cecília Maria das Virgens. Casa do Curral de Pedras: Simplício Coelho de Rezende / com a primeira esposa: Rosa Lina de Castelo Branco, seis filhos”, dentre eles o Coronel Antônio Coelho de Rezende, patriarca dos Rezende de Piripiri. Casa da Caiçara: Geracinda Rosa de Melo / Diógenes Benício de Melo. Casa do Piripiri do Corrente: José Joaquim da Silva Rebelo / Donata Joaquina de Oliveira Castro. Casa da Residência: Florindo Francisco de Sousa Castro, e mais, os Rego, os Alves Ferreira, os Mendes do Amaral, os Félix da Silva, os Oliveira Fernandes, os Oliveira e Silva, os Gonçalves Medeiros, os descendentes de João Paulo da Silva Rebelo / Teresa Rosa de Jesus, da Casa da Chapada, os Araújo da Silva, chefiados por Francisco Rabelo de Araújo e Silva, Estêvão Rabelo e Antônio Albino de Araújo e Silva; os Carvalho; os Andrade, os Sousa Memória e muitos outros. Era tudo que tinha nestas regiões da Data Botica (dos Medeiros) antes da chegada do desbravador bandeirante piauiense, Padre Freitas. O outro é Piripiri esta cidade acolhedora, progressista, cantada em prosa e verso por seus filhos legítimos e de adoção; cidade que se desenvolve rapidamente e espera, a cada dia, dos seus filhos, das autoridades constituídas civis, eclesiásticas e militares um olhar mais humanista e mais cristão; que se pense mais no coletivo, assim como o próprio fundador deixou para nós este legado que é de responsabilidade de todos.

Mas não podemos falar de Padre Freitas e de Piripiri sem antes abordar a região norte do Piauí, primeiro dos nativos – os índios Tremembés,            os primeiros habitantes da região norte, no Delta do Parnaíba, tidos como ágeis nadadores e mais tarde aldeados pelos Jesuítas. Depois os colonizadores portugueses e por fim os brasileiros piauienses, cearenses, maranhenses, pernambucanos e baianos. Dentre os muitos portugueses que para aqui vieram destacamos os “Dias da Silva”, na pessoa de Domingos Dias da Silva e familiares, primeiro ficaram na Barra do Longá e mais tarde na região do Porto das Barcas. Com a morte de Domingos Dias da Silva, seu filho Simplício Dias da Silva, o lendário “Simplição da Parnaíba”, herdeiro de seu pai e da rica região onde se destaca a CASA GRANDE DA PARNAÍBA, o símbolo do poder autoritário, do comércio do gado, das charqueadas e do cultivo da terra que deu continuidade ao desenvolvimento da região. 

  

 

 

Mas foi na Vila de São João da Parnaíba nos idos de 1798 que nasceu Domingos de Freitas Caldas Júnior, o nosso Padre Freitas. Seu pai Domingos de Freitas Caldas, natural de Portugal, ligado por laços de parentesco com os Dias da Silva casa-se com Rita Maria de Almeida e constitui a família com cinco filhos, a saber: José, falecido quando criança; Catarina de Sena e Silva; Maria Rita da Silva; Bernardo de Freitas Caldas e o caçula da família, Domingos de Freitas Caldas Júnior. Porque Silva e não Caldas? O nome do Padre Freitas foi alterado para Domingos de Freitas e Silva. Àquela época era comum que o afilhado recebesse o sobrenome do padrinho, que no caso era o reverendo Henrique José da Silva.

Pela historiografia de Parnaíba o português Domingos de Freitas Caldas pai do Padre Freitas chegou à região litorânea da então Província do Piauí no século XVIII. Era pessoa amiga e de muita confiança dos Dias da Silva e foi por muito tempo responsável pelo Cartório da Vila de São João da Parnaíba onde exerceu a função de escrivão e mais tarde passou essa tarefa para o seu filho Bernardo de Freitas Caldas, portanto, irmão do Padre Freitas.

Dentre as irmãs do Padre Freitas, a Maria Rita da Silva, casada com Brás José Muniz, uma das filhas do casal, Bernarda Rita da Silva, foi casada com Domingos Alves Ferreira, bisavô materno da historiadora Judith Alves Santana. (1)

O Padre Henrique José da Silva padrinho do Padre Freitas vendo que seu afilhado, jovem e inteligente, tinha um futuro promissor sugere aos seus pais a ser padre e que o mantem com todas as despesas necessárias no que decidem encaminhá-lo a estudar no Seminário de Olinda. Nesta cidade pernambucana conhece a jovem Lucinda Rosa de Sousa, descendente de holandeses, e começa um relacionamento amoroso, se tornando insustentável a sua permanência naquela cidade, por isso a direção da Diocese de Olinda, responsável pelo Seminário, nesta ocasião, o transfere para o Seminário de São Luís-MA, onde conclui os estudos e é ordenado presbítero secular.

Ainda em São Luís do Maranhão, Padre Freitas inicia sua vida ministerial, adquire bens imóveis, mas em seguida retorna a sua terra natal, a Vila de São João da Parnaíba, como sacerdote atuante e, mais tarde, se torna regente da cadeira de latim. Padre Freitas era pessoa influente pela sua capacidade de convencimento e de visão futurista para sua época, à amizade do seu padrinho e com a família dos Dias da Silva. Porém, neste período, chega a Vila de São João da Parnaíba, Dona Lucinda Rosa de Sousa e em seguida os acontecimentos das lutas pela Independência do Brasil; e o Padre Freitas não se omite, sendo um dos partícipes deste movimento na Vila de São João da Parnaíba.    

Quando se irrompe o movimento de Independência do Brasil, em 7 de setembro de 1822, em São Paulo, no conhecido episódio das margens do Riacho Ipiranga, a Vila de São João da Parnaíba, situada ao norte da Província do Piauí teve, em primeira mão, conhecimento da separação do Brasil de Portugal. Por isso, as lideranças políticas da Parnaíba simpáticas ao rompimento do Brasil com a Coroa Portuguesa, aderem ao movimento, se insurgem e a 19 de outubro de 1822, declaram independentes do Reino de Portugal. O movimento é liderado pelo Juiz de Fora João Cândido de Deus e Silva, o fazendeiro Simplício Dias da Silva, José Ferreira Meireles, Ângelo da Costa Rosal, Bernardo de Freitas Caldas, Joaquim Timóteo de Brito, também o nosso Padre Freitas e outros, que nesta ocasião proclamam a Independência em relação a Portugal, pela Câmara Municipal de Parnaíba, numa solenidade, até então, nunca vista. A província do Piauí adere à causa da Independência do Brasil.

João José da Cunha Fidié, à época, era o Governador das Armas do Piauí, e estava em Oeiras, quando soube do ocorrido na Vila de São João da Parnaíba, ruma ao norte para sufocar o movimento no litoral, com seus comandados; uns a cavalo, outros a pé, numa marcha longa, cansativa e penosa. (2) Com a aproximação das tropas de Fidié, os “milicianos” do movimento separatista da Vila de São João da Parnaíba, reconhecendo a inferioridade bélica, resolvem em 4 de dezembro de 1822 se refugiarem em Granja-CE, e só depois de alguns meses, retornam, mas temendo retaliações na Vila, Padre Freitas se refugia em terras da região de Piracuruca transformando sua vida num verdadeiro mistério, e que daí várias versões se encarregam de marcarem a vida do sacerdote.

Quando os insurretos estavam ainda em Granja-CE, Padre Freitas e outros companheiros conseguem mobilizar e trazer quantidade razoável de pessoas para lutarem nos movimentos de 22 de janeiro de 1823, na Lagoa do Jacaré, liderado por Leonardo de Carvalho Castelo Branco, na Vila de Piracuruca e na Batalha do Jenipapo, dia 13 de março de 1823, na Vila de Campo Maior. Depois Padre Freitas retorna à Vila da Parnaíba, no entanto sua presença não é bem vista pela sociedade de então e pela Igreja que lhe transfere para a Paróquia de Nossa Senhora do Monte do Carmo, na Vila de Piracuruca, já com a Dona Lucinda Rosa de Sousa, onde divide com o Padre José Monteiro de Sá Palácio os destinos daquela Paróquia. Para efeito de informação transcrevemos um documento de óbito daquele ano assinado pelo Padre Freitas, como vigário da Paróquia de Piracuruca:

“Aos vinte quatro do mêz de septembro de mil oitocentos e vinte e trêz nesta Igreja Matriz de Piracuruca sepultousse Roza Maria Brito, natural dessa freguezia, Viúva: morreu de febres: foi em volta em habito de S.Francisco emcomendado por mim e para constar fiz este assento que assigno= Vigário Padre Domingos de Freitas Silva”

Fonte: Karithiane Haffizza Mill Medeiros Lustosa – “Domingos de Freitas e Silva Para Além das Rupturas e Para Toda a Eternidade: o Homem Vestido de Batina” – pág. 38.

 

 

 

Quando Padre Freitas foi residir na então Vila de Piracuruca fixou moradia na localidade Gameleira com Dona Lucinda e duas filhas dela nascidas de outra união, Lucinda Rita da Silva que casou com o Capitão Bernardo Lopes Castelo Branco e Joana Paula da Silva que casou com Manoel da Silveira Sampaio, e lá nasceram os filhos do casal: Domingos de Freitas e Silva Júnior, o “Freitas Júnior”; Raimundo de Freitas e Silva; Porfírio de Freitas Silva; Antônio Francisco de Freitas Silva e Amélia Clemência da Silva. (3)

Como o Padre Freitas não podia batizar seus próprios filhos coube à incumbência ao seu colega, o Padre Sá Palácio, vigário da Paróquia de Nossa Senhora do Carmo de Piracuruca o que transcrevemos o documento de batismo de Domingos de Freitas e Silva Junior, o Freitas Júnior:

“Aos vinte e oito dias do mês de outubro do anno de mil oitocentos e trinta e hum, no Oratório Publico do Sítio da Gameleira, Freguesia de Nossa Senhora do Carmo de Piracuruca, baptizei a Domingos filho natural de Dona Lucinda Rosa de Sousa e lhe pus os sanctos óleos: Forão padrinhos Francisco José do Rego Castelo Branco e sua mulher Theresa Eugenia Maria de Jesus moradores do Sitio Baixão na mesma de Piracuruca. E para constar fiz este assento em que me assigno.” José Monteiro de Sá Palácio = Vigário”

Fonte: Karithiane Haffizza Mill Medeiros Lustosa – “Domingos de Freitas e Silva Para Além das Rupturas e Para Toda a Eternidade: o Homem Vestido de Batina” – pág. 41

 

 Na realidade, o Padre Freitas com sua primeira esposa, Dona Lucinda Rosa de Sousa, tiveram 7 filhos, as duas primeiras filhas faleceram muito antes dele escrever o seu Testamento. Dona Lucinda, faleceu em 1839, na localidade Gameleira e foi sepultada na Igreja de Nossa Senhora do Carmo. Portanto, no Testamento escrito pelo próprio Padre Freitas, em 1862, ele cita apenas os cinco filhos vivos com Dona Lucinda e sete com sua segunda esposa Dona Jesuína Francisca da Silva. 

 

 

 

 A situação torna-se complicada e com família constituída, o Padre Freitas decide, em 1840, deixar Piracuruca e vir primeiramente para a Fazenda Anajá (ao norte de Piripiri, próximo onde é hoje o Açude Anajá). Ali, Padre Freitas constrói uma casa e uma pequena capela de palha; instala engenho de cana, equipamentos para fabricar farinha e alambique para o fabrico da cachaça; plantações de frutas e cereais e criação de animais e escravos para os serviços domésticos e do campo. Depois, de 1840 a 1844, compra dos Medeiros terras na região denominada BOTICA pertencente à SESMARIA concedida a Antônio Fernandes de Macedo, em 1777. Foi nas proximidades de um olho d’água, depois denominado de “Olho D’Água de Nossa Senhora dos Remédios”, que Padre Freitas constrói a sua Casa- Grande dos Freitas, da Fazenda Pery-pery (4); uma Capela em honra a Nossa Senhora do Rosário, em homenagem aos negros escravos e também currais. Está fundada, portanto, a cidade de Piripiri – 1844.

 

 

(1) Domingos Alves Ferreira foi casado com Bernarda Rita da Silva, filha de Maria Rita da Silva, irmã do Padre Freitas e que tiveram, do nosso conhecimento, 03 três filhos: 1- Domingos Alves Ferreira que se casou com Izabel Alves de Jesus ou Izabel Maria de Jesus que são os pais de: “Raimundo Alves” Ferreira; Acelina Alves Sampaio “Cilu”; Genuína Alves Ferreira (mãe de Judith Santana); Dina Maria Alves Ferreira; Domingos Alves Filho “Mingo”; e Antônio Alves Ferreira Sobrinho. 2- Antônio Alves Ferreira que se casou com Joanna Paula da Silva, depois de casada mudou o nome para Joana Paula Alves Ferreira que são os pais de: Adelina Alves Ferreira (mãe de Murilo Rezende); Álvaro Alves Ferreira; Maria Emília Alves Ferreira; Adérson Alves Ferreira (pai de Antônio Ferreira Neto “Ferreirinha”); Odilon Alves Ferreira e Oscar Alves Ferreira (pai da Professora Mirtes Ferreira) e 3- Liberato Alves Ferreira que se casou com Raimunda Fontenelles que são os pais de Maria do Carmo Fontinelles, Benedicta Ritta Fontinelles e Joanna Ritta Fontinelles.

  

(2) 13 de novembro de 1822: Fidié e sua tropa, ao som de clarins e tambores, deixam Oeiras e seguem rumo a Vila de São João da Parnaíba percorrendo aproximadamente 900 quilômetros. A maioria dos soldados percorreram a pé este trajeto e muitos deles descalços, numa época de seca e chegavam a andar entre 24 a 30 quilômetros por dia pelas veredas e caminhos acidentados. A alimentação para dar sustança e resistência aos comandados de Fidié era à base de carne bovina (reserva proteica), farinha (carboidrato) e rapadura (reserva de energia).

 

(3) Amélia Clemência da Silva foi a 5ª filha de Padre Freitas com Dona Lucinda Rosa de Sousa, se casou com Antônio Francisco de Sales, pais de Domingos Francisco de Sales e Raimundo Francisco de Sales, este, casado com Diolinda Florinda de Castro, pais de Amélia de Castro Sales; Maria Amélia de Castro Sales; Antônio Francisco de Sales (Neto); Carlota Francisca de Sales; Justina Francisca de Sales e Francisco Raimundo de Sales.    

 

(4) Primeira denominação dada ao local da hoje cidade de Piripiri. De origem tupi, pery-pery tem vários significados e dentre eles a planta junco encontrada em regiões alagadas e segundo algumas opiniões de historiadores por ter nestes locais alagadiços em grande quantidade, daí pery-pery para designar pluralidade.

 

 

 

FONTE:
1- Judith Santana – PIRIPIRI – 1972.
2- Judith Santana – o Padre Freitas de Piripiri (Fundador da Cidade) – 1984.
3- Cléa Rezende Neves de Melo – Memórias de Piripiri: 1992.
4- Maria Leonília de Freitas, Francisco Antônio Freitas de Sousa e Francisco Newton Freitas – Professor Felismino Freitas: educação como missão e vocação. Teresina: Zodíaco, 2009.
5- Almanaque de Piripiri – Evonaldo Cerqueira de Andrade -1ª Edição.
6- Fabiano Melo – Ruas, Avenidas e Praças de Piripiri: 2008 – 1ª Edição.
7- Informações do site: Family search.
8- Karithiane Haffizza Mill Medeiros Lustosa - Domingos de Freitas e Silva Para Além das Rupturas e Para Toda a Eternidade: o Homem Vestido de Batina – 2014
9- Wikipédia, a enciclopédia livre.
10- Revista Piauí Terra Querida: Liberdade – 4ª Edição – 13 de março de 2012.
11-
https://www.dicionariodenomesproprios.com.br/peri/

12- Página do facebook da Fazenda Anajás.