José Alexandre da Silva, o Zé Cacete

Por Evonaldo Andrade

O menino José Alexandre corria o olhar pelo horizonte, ansioso, à procura das embarcações pesqueiras que traziam seu trabalho diário: descamar e limpar os peixes que eram vendidos ali na beira da praia onde morava.

Praia de Iracema, Fortaleza-CE, ali nasceu, em 03 de janeiro de 1940, José Alexandre da Silva, filho do casal Francisco Alexandre da Silva e Felismina Holanda Lima.

Para ajudar em casa, José saía cedo, munido de uma faquinha e um pedaço de pau (um pequeno cacete). Eram as ferramentas de seu ofício. Ele lembra: os ricos compravam os peixes e eu tratava ali, na hora, para ganhar uns trocados.

A vida do pequeno José era um tanto agitada, além de seu trabalho de escamador, ainda ajudava nos afazeres de casa e, sempre que possível, corria para a praia fazer o que mais gostava: jogar bola.

Sua família morava na beira da Praia de Iracema. De lá, Dona Raquel, sua avó materna, gritava para o menino: Zé, ôh Zé... e nada de o menino responder. Uma vez, quando o menino chegou em casa, sua avó predisse: menino, de tanto tu andar com essa faca e esse pedaço de pau, ainda vão te chamar de “Zé Cacete”. E... o apelido pegou!

Jovem ainda, José Alexandre começou a trabalhar em embarcações pesqueiras que passavam, em média, dez dias em alto-mar. O ofício não lhe agradava, o que o fez correr atrás de seu maior sonho, ser goleiro, viver do ofício de jogar bola. Passou por diversas seleções municipais: Juazeiro do Norte, Crato, Ubajara, Tianguá (onde foi vice-campeão intermunicipal).

 Em 1963, aos 23 anos, Zé Cacete ainda jogava em Tianguá. Naquele ano, o Guarani de Piripiri, um time formado por grandes jogadores, temido no norte piauiense, vai a Tianguá disputar um amistoso. A seleção de Tianguá defendia-se como podia, Zé Cacete foi o melhor jogador da partida, que terminou empatada (1 X 1). A atuação de José Alexandre chamou a atenção dos piripirienses que começaram a sonhar com o craque.

Zé Cacete recorda que, naquele ano de 1963, ao voltar de uma viagem à praia, um telegrama o esperava para selar seu destino em solo piripiriense.

Sua estreia em Piripiri aconteceu onde futuramente seria o Estádio Municipal Helvídio Nunes de Barros, diante da forte e rival equipe de Barras. José lembra que foi num domingo, talvez no começo do inverno, pois a partida foi disputada debaixo de muita chuva. O time de Barras, aguerrido como sempre, tentava e tentava... mas o goleiro de Piripiri era um gigante. A partida terminou com o placar de 3 x 0 em favor do Guarani.

Sobre a foto acima: Equipe do Itacoatiara, 1964. Local: Atual Arena Itacoatiara.

01- ?, 02- Curica, 03- Riba Rufo, 04- Zé Cacete, 05- Carequinha, 06- Hélio, 07- Luiz Cheiroso, 08- Milton Vieira, 09- Wallace, 10- Raimundo Rufo, 11- Fumacinha, 12- Lagoa, 13- ?.

Sobre a foto acima: Zé Cacete e Seu Hélio, 1964. Local: Atual Arena Itacoatiara.

Sobre a foto acima: Zé Cacete e Beneditão (irmão do Joaquim da Cepisa).

O Torneio Intermunicipal Piauiense tem início no ano de 1967, sendo conquistado pela Seleção de Parnaíba. Ano seguinte, 1968, a Seleção de Valença sagra-se campeã; 1969 é a vez da rival Seleção de Barras. E a Seleção de Piripiri, forte e temida por todas? Piripiri vence os torneios de 1970, 1971, 1978, 1979, 1980, 1983, 1986, 1991 e 1994. O certame termina em 2000, com Piripiri sendo o bicho-papão da competição.

Sobre a foto acima: Seleção Piripiriense, Campeã do Intermunicipal de 1970. Local: Atual Arena Itacoatiara. 

01- Chicuta, 02- Juval, 03- Zé Cacete, 04- Duca, 05- Carroceiro, 06- Moura, 07- Jânio, 08- Zé Maria, 09- Siminga, 10- Curica, 11- Raimundo Rufo, 12- Zé Baixinho, 13- Ditoso, 14- ?, 15- ?, 16- Pai Cheiroso, 17- Carequinha.

 Dos nove títulos, Zé Cacete esteve presente em cinco: três como jogador e dois como massagista.

            O primeiro emprego remunerado de Zé Cacete, em Piripiri, foi de servente (cassaco) do DNOCS (Departamento Nacional de Obras Contra as Secas), construindo os canais que levam água do açude para as áreas de plantio. José também jogou no time do Caldeirão.

José Alexandre da Silva casou-se com Rosa Pereira da Silva, com quem teve os filhos: Francisco das Chagas da Silva (o Júnior), Eliane Pereira da Silva e José Alexandre da Silva Júnior.

            As equipes que Zé Cacete defendeu foram: Guarani, Caldeirão, Itacoatiara (Itaquatiara), 04 de Julho, Polícia Militar, Adre, Rodoviário, além de outras.

            José Alexandre da Silva, em 1965, trabalhava na Construtora Empel,  a empresa responsável pela pavimentação da estrada que, futuramente, seria a BR 222. O canteiro de obras da empresa estava localizado na localidade Alto Alegre (hoje, pertencente ao Município de São João da Fronteira).

             Os funcionários da empresa criaram o time de futebol "Adre" (Associação Desportiva Empel).

Sobre a foto acima: Associação Desportiva Empel (Adre), 1965, Localidade Alto Alegre (Hoje, Município de São João da Fronteira-PI).

01- ?, 02- Sapato, 03- João Torres, 04- Zé Cacete, 05- Edílson, 06- Pelado , 07- ?, 08- ?, 09- ?, 10- ?, 11- ?. 

Sobre a foto acima, formação do Itacoatiara: 01 – Fernando Melo; 02 – Zé Cacete; 03 – Juval; 04 – Fernando; 05 – (?); 06 – Cabo Alenso; 07 – Ted; 08 – Doidim; 09 – Nazareno; 10 – Eudes; 11 – Zé Perninha; 12 – Edmilson.

Sobre a foto acima, formação do Itacoatiara em uma das raras vezes em que Zé Cacete jogou na zaga, sendo o gol defendido pelo reserva Etevaldo. A partida foi contra a Seleção de Viçosa-CE. Placar final: Itacoatiara 7 X 1 Viçosa. O time:  01 – Zé Cacete; 02 – Etevaldo; 03 – (?); 04 – Raimundo Cabeludo; 05 – Curica; 06 – Mariola (à época, Zé Cueca); 07 – Fernando; 08 – Ted; 09 – Chico do Cartório; 10 – Doidim; 11 – Nazareno; 12 – Eudes; 13 – Dr. Luiz; 14 – Zé Perninha e 15 – Edmilson.

Sobre a foto acima, formação do 04 de Julho: 01 – Ted; 02 – Zé Cacete; 03 – Chico do Cartório; 04 – Cabo Alenso ; 05 – Belisca; 06 – Juval; 07 – Dr. Guido; 08 – Pelezinho; 09 – Curica; 10 – Nazareno; 11 – Dr. Luiz; 12 – Eudes; 13 - Zé Perninha.

            José Alexandre da Silva ingressou na Polícia Militar do Piauí em 18 de setembro de 1974, por concurso, depois de muita insistência do Capitão Gonzaga. José jogou muito tempo no time da Polícia Militar.

Sobre a foto acima, formação do time da Polícia Militar: 01 – Buré; 02 – Sargento Anselmo; 03 – Chico Antônio; 04 – Gilvan; 05 – Valter (Valté); 06 – Sargento Mariscal; 07 – (?); 08 – Edmilson; 09 – Zé Cacete; 10 – Tenente Araújo; 11 – (?); 12 – (?); 13 – Sargento Edmar; 14 – Wilsinho; 15 – Carlos Banal; 16 – Antônio Carlos;  17 – Sargento R. Gomes.

Sobre a foto acima, formação do time da Polícia Militar: 01 – Tenente Araújo; 02 – Sargento R. Gomes; 03 – Sargento Mariscal; 04 – Zé Cacete; 05 – Edmilson; 06 – Antônio Carlos.

Sobre a foto acima, formação do time da Polícia Militar: 01 – Zé Cacete; 02 – Fernando; 03 – Sargento Mariscal; 04 – Sargento Edmilson; 05 – (?); 06 – Tenente-Coronel Erisvaldo Viana; 07 – Sargento Saraiva; 08 – Coronel Edvaldo Viana; 09 – Zé Lourão; 10 – Trovão; 11 – (?); 12 – (?); 13 – Derica; 14 – Sargento R. Gomes; 15 – Manoelzinho; 16 – Mariola;  17 – Sargento Edmar.

            José Alexandre jogou no Piauí Esporte Clube (Teresina), Fluminense do Belchior (Fluminense Esporte Clube, de Teresina), Industrial (Maranhão) e Ferroviário (Parnaíba).

            Sobre a passagem de José Alexandre pelo Fluminense de Teresina, Deusdeth Nunes, o Garrincha, conta em seu livro “Um Prego na Chuteira”:

            Quando José Alexandre da Silva pendurou as chuteiras, voltou a residir em Piripiri, a terra que o acolheu e o pedaço de chão que aprendeu a amar. Aposentou-se pela Polícia Militar do Piauí, trabalhou ainda dois anos na Portaria do Hospital Regional Chagas Rodrigues, foi cobrador na empresa "Artemetal".

          Zé Cacete foi jogador e torcedor do 04 de Julho. Quando deixou os gramados, acompanhou o time sendo massagista, roupeiro e gandula.

Sobre a foto acima: desfile do dia 07 de Setembro, com os atletas Zé Cacete (calção 22) e Hélio Ferreira (calção 08) representando a Seleção de Piripiri em tempos idos.

            José Alexandre da Silva é um homem honesto, atencioso, que soube conquistar a amizade e o respeito dos piripirienses. O cognome “Zé Cacete” não é uma alcunha, é uma forma carinhosa pelo qual José ficou conhecido, um cidadão do bem que fez seu nome por onde passou. José Alexandre da Silva é “Nosso Povo, Nossa Gente”

Fonte de Pesquisa:

Informações prestadas por José Alexandre da Silva.

Livro: Um prego na chuteira, de Deusdeth Nunes dos Santos, Edição do Autor, 1979, pág. 18.

Revista: Placar - Edição dos Campeões 2011, n° 1361, Editora Abril.

Imagens: acervo de José Alexandre Silva e Evonaldo Andrade.

 

http://apibol.com.br/memoria_amadora.php acesso em 01/12/2016.