DOR E SOLIDARIEDADE

Oi gente que gosta de um Papo de Coreto, vamos conversar um pouco sobre essa semana que o país viveu dividido entre a dor e a solidariedade. É isso, uma conversinha breve sobre o acontecido com o avião que carregava a equipe de futebol da cidade de Chapecó e outras pessoas.

Dos meus 60 anos já vividos, cerca de 15 deles passei como repórter de televisão, rádio e jornal. Nessa década e meia cobri momento de muita dor coletiva, de emoções esparramadas em milhares de corações, mas nunca tinha visto algo similar ao que acompanhei agora após o acidente nas montanhas colombianas. E olha que, na condição de repórter da TV Verdes Mares/Globo, cobri um evento similar que foi o acidente com o avião da Vasp que se espatifou na Serra da Aratanha em 8 de junho de 1982 e levou 137 pessoas para outro plano. Também participei da cobertura da não posse, calvário e morte do Presidente Tancredo Neves já trabalhando na Rádio O POVO de Fortaleza, de várias coberturas de seca e enchentes no Nordeste e muitas outros fatos e acontecidos trágicos, mas juro que não vi nada igual ao que vejo nesses últimos dias, no tempo hoje.

Quando do acidente com o avião da Vasp eu vi e vivi uma cidade toda quietada, paralisada em expressão de dor, afinal mais cerca de dois terços dos mortos eram pessoas de Fortaleza, do Ceará e eu mesmo conhecia de perto umas duas dezenas delas. Foi um trauma que parou uma cidade, um Estado e mobilizou o país. Duro. Quando da morte de Tancredo também vi e vivi todo o drama e a incerteza que acometeu o país ... em momentos de grandes secas e vastas enchentes também a dor marcou centenas de milhares de pessoas, mas nada tão completo e surpreendente como o que todos nós vimos e acompanhamos esta semana. Um fato que abalou além fronteiras, além paixões, além conhecimentos, além relações pessoas, um fato que fez doer corações em todo o mundo.

O que o povo colombiano demostrou para nós em termos de humanidade, respeito, solidariedade para com nossos mortos, para com pessoas então anônimas para eles não tem regra para medir a dimensão. Foi dolorida e emocionalmente linda a reação daquele povo até então quase desconhecido para nós daqui. Gestos de solidariedade anônimos e coletivos nascidos de maneira tão espontânea que nos remetem a refletir sobre a nossa própria vida, nossas ações e nossa dimensão como ser humano, como brasileiros. É pelo tamanho da solidariedade que podemos avaliar o tamanho da dor e eles nos mostram que são enormes como povo, como seres humanos, como gente digna e preenchida de sentimento para com o próximo, mesmo o próximo sendo quase anônimo a cada um.

Escrevi tudo isso para dizer uma só coisa: estou orgulhoso do povo colombiano e até com uma ponta de inveja perdoável por tanta solidariedade, por tanto amor à dor.

Marcos Rezende Melo